29 de Setembro de 2004

"A pureza de um motor atmosférico é um valor sagrado para a BMW, mas a especialista Infinitas deu-nos a provar esta saborosa traição: a adição de um pequeno compressor ao Z4 3.0i de 231 cv. Ainda em fase evolutiva, este «pecado» de 5299 euros eleva a potência do roadster para 280 cv...
Para quê tentar sacar mais potência de um Z4 3.0i, que já conta com 231 cv? A pergunta fará todo o sentido para quem já teve a oportunidade de guiar o roadster da BMW, um carro que conjuga uma tremenda habilidade para curvar depressa com prestações de meter muito respeito. Mas, como há sempre quem queira ainda mais «andamento», também já há quem possibilite dar mais «músculo» ao Z4 e é aí que aparece a Infinitas. Esta casa alemã – com a representação em Portugal a cargo da empresa Q & F (tel.: 229699490) – especializou-se em dar mais poderio aos modelos da marca bávara, fazendo-o com o recurso a compressores... Na BMW, tal solução é vista como um «atentado» à pureza da mecânica, mas esta é uma maneira prática e eficiente de melhorar o desempenho de qualquer motor. O Z4 que ilustra estas páginas materializa o esforço de aperfeiçoamento da Infinitas: com a ajuda de um compressor «A.S.A.», a fasquia sobe dos 231 cv originais para uns mais apetecíveis 280 cv! Este Z4 3.0i SK+ era um exemplar ainda em fase de desenvolvimento, tendo feito a viagem Alemanha/Portugal atafulhado de aparelhos de aferição, que permitiam aos dois engenheiros alemães ter controlo assíduo sobre o desempenho da mecânica. Uma vez que se esperava um acréscimo de prestações, a Infinitas redimensionou o sistema de travagem (1940 euros) e procedeu a melhorias nas suspensões (1930 euros): as molas são mais duras e têm menos 15 mm de curso, foram instalados novos amortecedores e os topos da suspensão dianteira estão ligados por uma barra anti-aproximação. A rematar, o Z4 calçava umas imponentes jantes BBS de 19 polegadas (1666 euros), envoltas nuns finos pneus Continental SportContact 2 (235/35 à frente e 265/30 atrás).
Emoções ao volante
Depois do curto briefing matinal, em que Christian Stöber, fundador da Infinitas, nos deu a conhecer os dados vitais do SK+, chegava o momento de partir para o ensaio. A familiaridade com o interior do Z4 só foi quebrada pela presença dos ditos instrumentos de medição (fixados ao pára-brisas e a roubarem muita visibilidade), assim como pelos acabamentos em Alcantara e alumínio.
A primeira nota de condução foi, estranhamente, para o conforto. Mesmo com pneus de perfil hiper-baixo e suspensões muito firmes, o Z4 mostrou-se tolerante nas imperfeições do asfalto, mas mantendo sempre as quatro rodas bem assentes na estrada. Seguiram-se as impressões acústicas, o «seis em linha» entoava uma melodiosa nota de escape e apenas se escutava o sopro do compressor nas reduções. Uma delícia. Mas, o que realmente interessa saber é como se comportou a mecânica do Z4 SK+. A agulha do taquímetro percorria a escala até à red-line sem sobressaltos nem evidentes patamares de força, dando provas de uma extrema linearidade. Contudo, e tal como no 3.0i atmosférico, são os médios regimes que mais convencem e foram raras as vezes em que esgotámos a aceleração antes de trocarmos de caixa. O SK+ não aparentava esforço para entrar numa dimensão «balística» e muito rapidamente se tornava num verdadeiro atentado aos limites de velocidade, num frenesim que nos fazia crer estarmos perante algo ainda mais poderoso que o Z4 3.0i que lhe serviu de base. Mas, essa superioridade não foi totalmente clarificada na corrida contra o cronómetro. E mesmo considerando que este SK+ ainda se tratava de um carro em fase de apuro, foi com algum desalento que constatámos que não superou o Z4 original na aceleração dos 0 aos 100 km/h (ambos registaram 6,3 segundos) e apenas conseguiu perto de um segundo de vantagem na passagem dos primeiros mil metros. A prestação mediana dos pneus Continental e a alta temperatura que se fazia sentir na sessão de medições podiam explicar parte destes resultados, mas também ficou patente que ainda havia algum trabalho por fazer até que o compressor atingisse o devido rendimento. Os testes de recuperações comprovaram a extrema elasticidade do SK+, mas também nesse aspecto não se registaram ganhos muito evidentes – é que o Z4 3.0i já é bastante competente... Nos consumos em estrada, veio a surpresa: a 130 km/h, o SK+ gasta 7,6 l/100 km, ou seja, menos 2 litros que o modelo base!
A preparação da Infinitas convenceu-nos, sobretudo, pelas melhorias no comportamento, sem consequências nefastas para o conforto nem para a pureza de reacções do roadster da BMW. Quanto à intervenção mecânica, era evidente que a fase evolutiva ainda estava em curso, mas provou ter potencial para superar o original. E quando todo o sistema entregar o devido rendimento, o SK+ poderá ser uma alternativa muito viável para dar mais potência ao Z4... mesmo que o 3.0i já tenha potência de sobra.
Flávio Serra"